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Escravidão, indiscrição, realidade e o evangelho de cristo.


De novo, vamos lá visitar, Luiz Gama, Joaquim Nabuco, Machado de Assis e o evangelho de Jesus, gosto destes nomes, suas obras, sua biografia, eles me ajudaram na minha formação, porém, por que são lembrados? Porque eram negros, ou pardos, ou, porque foram livres? Ultimamente, várias publicações de honra e lembrança a esses distintos homens, a revelia suas obras (sem nem sequer lê-las), é usada para diminuir ou tentar atenuar a dura escravidão brasileira, para constar, uma das mais cruéis do mundo com reflexos até hoje (“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”), éramos católicos e ibéricos, é verdade, porém essa disposição a mistura e a decisão de não matar todos os nascidos mestiços tiveram muito mais a ver com o tamanho de nosso país e a capacidade que tínhamos de esconder as indiscrições cometidas com nossos escravos, do que fé (até hoje temos esses traços de ocultar indiscrições, inclusive dentro da igreja).



Nos EUA, no que lhe concerne, um país protestante, lotado de escolhidos, o evangelho na boca dos seus “operadores” ficava em silêncio em relação à escravidão e a segregação, com poucas exceções principalmente até 1870, eramos crentes demais para abrir mão seu patrimônio ou seus “animais” por causa da "besteira e o do absurdo da 13.ª emenda" disse um pastor no recém formado parlamento americano.



Casa Grande e Senzala (Gilberto Freire), Da democracia na América (Aléxis Tocqueville), obras "definitivas" para nos avisar que abolição e liberdade, abolição e oportunidades não tinham conexão, que abolição e democracia não estão associadas. Em pleno século XXI, no mundo inteiro, usamos cantores, esportistas, atores, usamos seu sucesso como discurso, mesmo que tal premissa seja absurda, mesmo que estatisticamente inapto, mesmo que a realidade grite em nossa face, quando olhamos ao lado, a frente, no trabalho, nos espaços comerciais, nas universidades/escolas, nos cinemas, teatros, na igreja, e mesmo sem querer, percebemos que perto de nós apenas os negros de sucesso e talento tem espaço, os demais, tratamos com certo distanciamento, não os vemos como quem nos oferecerá genros, presidentes, governadores, CEO's, (o discurso ou a ideologia é a desculpa, a origem negra é o fato) quando alguém escapa, opa, que bom, ajudou meu discurso sobre mérito. Nossos proeminentes negros são usados, e alguns até acreditam que seu sucesso é resultado de mérito e esforço, como se o evangelho não existisse, (“sem Mim nada podeis fazer”, ou “Sou a árvore e vós os galhos, se estiverem ligados a Mim, darão fruto”, ou ainda “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre”). Expressões como “vitimismo” tão aplicadas diariamente a minorias e mulheres, se aplicava as sufragistas, se aplicou ao movimento operário, a judeus, testemunhas de Jeová, chineses na construção dos trilhos pelo mundo até aos protestantes, se baseiam na ideia de igualdade de condições, falácia de quem não conhece o tema da produtividade, de quem não entende a bioética ou o reflexo da formação teórica ou prática para quem produz. Expressão de total falta de empatia, de mínimo conhecimento antropológico e da história e formação da diversidade e do mercado de trabalho no mundo. Hoje a discussão é, o que fazer com as pessoas, se vários empregos que desaparecem nas crises nunca mais existirão?



O sucesso tomou uma dimensão, inclusive entre nós, de justificativa, porque é utilizada para apagar, ou atenuar diferenças sociais, raciais, intelectuais e até morais, tratamos o ímpio, ou simplesmente o outro com o rigor que fora reservado a nós, “os fortes”, “maduros”: “Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão”, de repente a vitória não é mais a eternidade com Cristo, “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Mas a glória dos homens e desse mundo, “Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens somos os mais dignos de compaixão”. Como se não se aplicasse a nós Sua palavra quando diz: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”. Infelizmente olhamos o outro, não a partir de quem se fez escravo, mas a partir de quem nunca experimentou em sua geração ou na ancestralidade a escravidão, ou a aplicação dos conceitos de eugenia ou mesmo um dos mais ridículos, o de meritocracia sem equidade.



Antigamente, eu pensava que era ignorância histórica e matemática, hoje, não tenho dúvida, é má-fé mesmo. As exceções, raríssimas, são compradas e revendidas como fruto de esforço e mérito, ou ainda talento natural, porém, de forma desonesta é utilizada como prova de que TODOS PODEM, mesmo sabendo que até em grupos privilegiados nem todos conseguem, e em grupos marginalizados pouquíssimos podem tentar.



Luiz Gama, livre, escravo, livre, jornalista, Machado de Assis, pobre, mestiço, boêmio, se envolvia e acessava a cultura da capital, livre entre filhos da cultura francesa, ou mesmo Joaquim Nabuco, nobre, que embora não tivesse fé que Cristo era filho de Deus, entendia que, no discurso do evangelho não cabia escravidão, não cabe segregação, não cabe pre-conceito, Jesus, este representado nos evangelhos, era o salvador dos abandonados, fracos, desprezados, improváveis, uma mensagem de liberdade aos escravos e aos presos mesmo sob prisão, esperança, segundas chances, perdão ilimitado e a abominação a acepção e assepsia de pessoas. Grandes homens e o filho de Deus (o único a experimentar tortura), os demais, não viveram nos grilhões, nas lavouras, nos paus de arara, ou foram mortos na cruz, mas se indignaram e se levantaram (não ficaram olhando), cada uma sua forma e força todos denunciaram essas práticas com muito menos romance que Gilberto Freire, ou os intelectuais sem livros.



Cabe lembrar, ou saber, que ainda em 1908 tínhamos em Goiás (e vários lugares do Brasil) fazendas com escravos negros, e alguns fazendeiros com medo do castigo da república colocaram fogo em famílias inteiras para esconder a “indiscrição” de manter escravos 20 anos após a abolição, estupros eram diários e normais, abuso físico, psicológico, assassinatos, buracos de castigo, fome, tortura, mesmo depois da abolição, aqui e nos EUA, tudo conduzido, observado e realizado por "cristãos". Uma pergunta surge, onde estavam os religiosos cristãos durante a escravidão no Brasil e nos EUA, infelizmente, a maior parte estava calada, ou pior, legitimando a posse de outro ser humano como coisa. Onde estamos nós agora, calados, ou pior, relativizando a dor e o sofrimento dos filhos e netos da escravidão com discursos baseados em eugenia, sectarismo que negam o evangelho de Cristo. Lembremos, que o medo é face do pre-conceito, então: "No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor".



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